No
Paraná, o exemplo mais emblemático dessa economia é visto em
Guaraqueçaba, no litoral norte do estado. Com mais de 2 mil quilômetros
quadrados, o município possui o maior remanescente contíuo de Mata
Atlântica do Brasil, fator decisivo para que a região se tornasse área
de preservação ambiental, na década de 80.
Sob os olhares dos órgãos de proteção ambiental, os
moradores das 53 comunidades inseridas na APA de Guaraqueçaba tiveram de
reinventar a economia local, antes baseada na agricultura convencional e
no extrativismo. “O caminho encontrado foi a união por meio de
cooperativas e associações de produtores”, afirma Ivair Barbosa
Colombes, secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca de
Guaraqueçaba. No entanto, mais de 20 anos após a criação da APA, com
poucos recursos para incrementar a produção, os moradores lutam para
conciliar a conservação e geração de renda.
Na porção litorânea do município (que inclui as ilhas), a pesca e o
cultivo de ostras garantem a renda dos moradores. Colombes diz que o
objetivo é fortalecer a Associação de Pescadores, recém-criada, para
eliminar os atravessadores que ainda vendem a maior parte do pescado. Na
parte continental do município, a base da economia é a produção de
arroz, banana, farinha de mandioca e palmáceas [palmeira real e
pupunha], tudo vendido diretamente aos compradores por meio das
associações de produtores das comunidades.
Na propriedade agroflorestal do agricultor Francelino Guilherme
Cogrossi, 59 anos, árvores nativas da Mata Atlântica – como a canela
amarela, o cedro e a figueira branca – dividem o espaço com bananeiras,
hortaliças, palmáceas e uma série de outros cultivos. Apesar da
variedade de plantios, ele diz que a banana, a palmeira real e a
mandioca são os destaques da propriedade, que é ponto de parada para
turistas. Nascido em Potinga, comunidade vizinha a Tagaçaba, o
agricultor conta que a preservação da natureza era assunto sério para o
pai. “Ele sempre nos ensinou a trabalhar em parceria com a natureza”,
relembra.
Desafio
A consolidação da economia verde na região é o grande desafio dos
moradores, segundo Pedro Rosa, presidente da Associação de Produtores de
Tagaçaba, comunidade situada na parte continental da APA de
Guaraqueçaba. Há mais de 30 anos na comunidade, Rosa acompanhou a
transformação de Guaraqueçaba em uma área de preservação ambiental, em
1985, e conta que não houve um estudo social na região para determinar o
impacto das restrições ambientais no modo de vida e trabalho dos
moradores. “A falta de planejamento levou à evasão dos jovens para as
cidades, comprometendo a força produtiva da região”, diz.
Para Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em
Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) – que desenvolve projetos na
APA de Guaraqueçaba –, o desenvolvimento da região depende de um
projeto sério de gestão que elimine a ideia de paraíso autossustentável.
“O modelo de desenvolvimento precisa agregar valor à maior riqueza da
região, que é a biodiversidade, mas sem exauri-la”, afirma.
FONTE: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/retratosparana/conteudo.phtml?tl=1&id=1178050&tit=Economia-verde-da-os-primeiros-passos