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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Paraná tem novos moradores...


Centenas de pesquisadores estão, neste instante, embrenhados no mato ou fechados em laboratórios para tentar provar que a diversidade de seres vivos é muito maior do que se tem conhecimento. A cada semana, por exemplo, é descoberta uma nova espécie de peixe no Brasil. E a Mata Atlântica, especialmente nos trechos preservados que existem no Paraná, abriga boa parte dos animais e plantas só recentemente encontrados.
Do momento em que uma nova espécie é localizada até o reconhecimento científico é preciso trilhar um longo caminho. Nos últimos cinco anos, 64 espécies foram descobertas em pesquisas apoiadas pela Fundação Grupo Boticário em todo o país. Mas apenas nove já passaram pelo processo de descrição – que inclui a escolha de um nome. O intervalo entre o achado e o batizado costuma ser de dois anos de trabalho, no mínimo. A pesquisa exige a avaliação de todas as características físicas internas e externas para assegurar que aquele conjunto de seres é diferente de todos os outros. Posteriormente a comparação precisa ser referendada por outros pesquisadores e publicada em revista científica.

Equilíbrio ecológico

A bióloga Cosette Xavier considera que falta investimento em pesquisa na área de descoberta de animais e plantas. “Atualmente o incentivo se restringe, basicamente, à concessão de bolsas de mestrado e doutorado, mas não é suficiente”, afirma. Ela já foi coordenadora nacional de fauna pelo Ibama e também responsável pelo setor no Paraná e no momento atua na iniciativa privada, como consultora ambiental. Cosette diz que muitas descobertas acabam sendo feitas no momento de avaliação de impacto ambiental de grandes empreendimentos. “O estudo permite fazer uma intervenção mais planejada, realocar espécies, preservar algumas áreas e até alterar traçados das obras”, explica.

“Está aumentando gradativamente, nos últimos 20 anos, a quantidade de especialistas em várias áreas da zoologia e a tendência é de que mais descobertas sejam feitas”, afirma Mauro Britto, que é biólogo da Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
Na semana passada, por exemplo, o Instituto Butantã anunciou a identificação de 17 novas aranhas nativas da Mata Atlântica. Britto conta que as descobertas feitas no Paraná estão concentradas na planície litorânea, nos municípios de Guaraqueçaba e Matinhos. “Nesses locais ainda existe uma cobertura florestal razoável”, explica.
Para Marcio Pie, professor de Zoologia na Universidade Federal do Paraná, o reconhecimento científico de espécies endêmicas (que só habitam um determinado local) é importante para traçar estratégias de preservação da área. Ele também aponta a relevância do equilíbrio ecológico. Não se sabe ainda qual o papel que cada espécie exerce em um ambiente – a extinção de um bicho que se alimenta de um tipo de mosquito transmissor de doenças pode acarretar o aumento da população do inseto com consequências danosas para todos.
Um dos principais acervos do país está em Curitiba
Quando uma nova espécie é encontrada na natureza, o pesquisador recolhe alguns exemplares para estudo. A descoberta é então comparada com o que os biólogos chamam de coleção (conjunto de espécies já localizadas pelos cientistas). É essencial contar com coleções com a maior variedade possível de exemplares para assegurar que não se trata de um indivíduo já identificado. Um dos principais acervos de coleções do Brasil fica no Museu de História Natural do Capão da Imbuia, localizado no bairro curitibano de mesmo nome. O local concentra exemplares de descobertas feitas no Paraná.
Não há um catálogo que concentre as espécies recentemente descritas no estado. “O pesquisador de cada área acaba sabendo, mas a informação não está disponível ao público em geral”, reconhece o ictiólogo (estudioso de peixes) Vinícius Abilhoa. Ele afirma que existem cerca de 150 espécies de peixes na Floresta Atlântica litorânea paranaense e acredita que igual quantidade ainda não foi localizada. Nos últimos cinco anos, 12 peixes foram identificados e 20 ainda estão em processo de descrição na área.
A diversidade de répteis e anfíbios é muito maior do que a que foi estimada há 20 anos, conta o pesquisador Júlio Moreira Leite. Ele ressalta a importância das coleções. O incêndio que destruiu o acervo de cobras do Instituto Butantã em maio de 2010 tornou ainda mais importante as coleções dos museus espalhados pelo país. “Para desenvolver o soro antiofídico é preciso usar o veneno de vários tipos diferentes de jararaca, por exemplo”, explica.
FONTE:http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/meio-ambiente/conteudo.phtml?tl=1&id=1286678&tit=-procura-de-novos-moradores